Onde fica o aprendizado na cultura do cancelamento?

Estamos vivendo uma vibe da cultura do cancelamento. Memes e expressões, muitos até engraçados por sinal, acabam trazendo à tona a ideia da perfeição e desencadeando um extremo do politicamente correto. Claro que vivemos em sociedade e há uma série de regras, crenças, senso comum para que possamos conviver de forma mais harmônica.

Já nos livros, desde o tempo da escola, aprendemos sobre as leis nas sociedades ancentrais, que foram se organizando para lidar com conflitos, ideias e opiniões divergentes. As tábuas da lei, dos 10 mandamentos é um bom exemplo disso. O poder de cancelar seria fundamentado em que teoria?

Quando entramos no quesito aprendizado e na didática em que ele é inserido, percebemos que ele nada mais é que encerrar um ciclo importante na vida de cada pessoa, mesmo que muitos acreditem que o cancelamento seja apenas retirar alguém da evidência. Reforço que não estou defendendo atitudes de pessoas que agem impulsivamente, que detêm de todas as ferramentas de informações e não as buscam antes de emitir qualquer opinião ou realizar determinada atitude. Até porque existe até orientação para afastamentos de determinados indivíduos quando atitudes deste prejudicam a nossa saúde mental, aí sim, cancelar ou bloquear é um caminho a ser pensado.

No entanto, o que quero dizer que o cancelar, inserido no universo amplo do aprendizado, é deixar de dar voz para aquele indivíduo que está em um determinado processo de evolução. Todos nós estamos passando por isso de um certo modo. Um exemplo “bobo”, mas que exemplifica muito o que estou falando é a escada rolante de alguns estabelecimentos. Tem sempre um aviso para que as pessoas se mantenham à direita, eu nunca tinha visto (acredite!) e, por muito tempo, por não levar a sério, qualquer sentido pouco importava para mim. Seria cancelada por isso? Talvez! No mínimo um empurrãozinho para voltar para lugar certo. Rs… Convivendo com pessoas que já sabiam da importância de uma simples atitude, comecei a agir conforme a padronização geral, não pensando no meu conforto de ir e vir em qualquer lugar da escada, mas, antes de qualquer coisa, comecei a pensar na coletividade.

Esse é apenas um relato, de coisas que podem ser maiores, seja com alguém que está vivenciando a jornada de um novo emprego, alguém que esteja passando por uma crise em um relacionamento ou por conflitos existenciais, que muitas vezes foram desenvolvidos numa bolha familiar ou religiosa. Cancelar, bloquear, descartar, tirar de cena como primeira e única alternativa, sem rever todo o contexto, é diminuir o poder que o outro tem de crescer e rever conceitos.

O ideal da pessoa perfeita, que age, que fala, que pensa tudo que consideramos como correto e nem nós somos capazes de ser, nada mais é do que uma utopia, levando muitos para o caminho da intolerância. Adotar a cultura do cancelamento é ser mais um agente ativo desse ciclo. O que observamos é que vivemos no universo do medo de errar e ampliamos isso ao outro. O outro não pode errar de jeito nenhum e, num no simples passe de mágica, é como se apertassem um botão e não valesse a pena toda a sua existência. Que possamos entender que cada pessoa vive um processo diferente, anseio, metas e sonhos. Ao invés de cancelarmos alguém, possamos ser canais de um novo caminho, impedindo que essa era do cancelamento desfaça a essência do aprendizado, que sempre nos fez acreditar que cada pessoa merece sua chance de crescer.

Cristiane Costa
Relações Públicas na Marcô Comunicação

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